domingo, 5 de junho de 2011

[Desalento.bmp]
Eu tinha uns olhos de neve
no tempo do vendaval;
sob os olhos, flores geladas;
por sobre o espelho tremente
finas bagas de cristal.

O tempo do vendaval
governa ainda os meus dias.
E um arrais de neves frias
põe cansaços de metal
nas doces melancolias.

Nas noites de lume fosco
sobre a água corredia,
um rosto que não tem rosto
e que se esfuma no dia
preside ao branco cenário
de uma única harmonia ...

Vendaval de mãos tão frias:
deslaça-me estes cabelos,
abre-me os braços sem elos,
faz de mim águas sombrias,
sem canto de rouxinóis
nem folhagem protetora,
nem melodias de aurora,
nem mansos beijos de sóis.

Inunda-me estes ouvidos
de raízes muito velhas;
põe longe as festas vermelhas
que eu tive nos meus sentidos,
e de uma vez para sempre
livra-me toda de mim.

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